É mais ou menos assim como foi o milésimo gol de Pelé: ao chegar nos 999 parecia até que o maior craque da história do futebol nem entrava em campo.
A façanha foi sendo protelada, arrastada, prolongada até que a expectativa se transformou numa grande festa. Eis, então que chega o dia 19 de novembro do glorioso ano de 1969.
Sob as luzes dos refletores, com data, hora e lugar marcados, o gol mil foi feito de pênalti, devidamente enquadrado pelas câmeras de televisão do mundo inteiro, pelos flashes de todas as máquinas fotográficas das melhores casas do ramo e cercado de microfones de boca aberta e curiosa para narrar o grande feito e ouvir o que o seu autor tinha para dizer.
Só pra não deixar por menos, o gol foi contra o Vasco da Gama, em Andrada um goleiro argentino, no maior e mais sagrado templo do futebol daquela época, o Maracanã - lotado até os gornes. E as TVs mostraram, as máquinas flagraram, os microfones contaram o que o Rei Pelé beijando a bola pediu aos seus súditos:
- Por favor, cuidem das crianças do Brasil.
Se quisesse e a ditadura deixasse, no dia seguinte Pelé tomaria o lugar de Emílio Garrastazu Médici e assumiria a Presidência da República. Talvez as crianças do Brasil Da Silva hoje fossem craques e não dependentes do crack.
E então voltando à vaca fria, atentai redes de TV, emissoras de rádio, cadeias de jornais, monopólios da comunicação, webmedia deslumbrada! Zé Serra vai entrar em campo assim que passar pela tartaruga.
Se pedir a mesma coisa que o Pelé pediu, só não pegará na mesma hora o lugar de Lula porque o núcleo duro do poder vigente também não vai deixar. E assim, até que um dia, será mesmo democrata.
Mas, enquanto a democracia vai repetir a Redentora, Zé Serra vai repetir Pelé: o maior tento de sua carreira já tem data marcada.