quarta-feira, 17 de março de 2010

Brincando de jogar bola

Desde domingo que a mídia esportiva de São Paulo não se cansa de debater o jeito santista de jogar e de comemorar os gols que vem fazendo aos borbotões. A grande pauta é saber se a dança dos moleques de Vila Belmiro é uma provocação aos adversários.

Tudo porque Ronaldo, Fenômeno de gordura e Diego Souza, o destemperado, andaram reclamando que aquilo é um "exagero", um "deboche"; que dar chapéu é um abuso; que o drible da vaca e o elástico são "molecagens"; que bater de trivela e fazer gol com bola e tudo é um "desrespeito".

Só os caolhos que narram e comentam o esporte não enxergam que a grande humilhação dos que andam tomando banho de bola da meninada é o futebol que jogam. Há muito tempo que ninguém joga bola com tanta técnica, com tanta beleza, com tantos gols, com tanta alegria e objetividade, como o Santos vem jogando.

Isso é que humilha. Eles fazem o que os outros gostariam de fazer e não sabem. Pena que o futebol brasileiro tenha hoje a cara de Ronaldões, Diegos e Dungas. É uma lástima que nos outros grandes times do Brasil os moleques sejam humilhados pelos vesgos do futebol e relegados a material de segunda, rotulados de "ainda verdes" e inexperientes para o futebol - como profetizam os treinadores defunteiros que vem enterrando a arte e a beleza nos nossos estádios.

O Santos de hoje é o Santos de ontem, de Pelé, Coutinho, Pepe, Mengálvio, Zito, Gilmar. Não tem mais jogo zero a zero. Ganha de 10 a 0 e até perde de 4 a 3. Um fenômeno que ninguém mais acreditava pudesse correr pelo Morumbi e Pacaembu; pelo Maracanã, Mineirão; Beira-Rio e Olímpico, Fonte Nova...

Enquanto os torcedores cariocas, baianos, gaúchos, de todos os estádios brasileiros se mordem de raiva por ver o futebol do Santos só pela TV, os paulistas perdem tempo com a dança de Neymar, Ganso, André, Robinho e toda a molecada que sabe e gosta de jogar bola na mais perfeita coreografia que já se viu dentro de campo nos últimos tempos.

O que incomoda os emburrados do futebol não é a brincadeira depois de cada gol; o que incomoda é como os moleques santistas chegam brincando a cada gol.