Armando Nogueira

Morre Armando Nogueira, dono daquele texto factual que era poesia à toda prosa. Morre o lado mais romântico do futebol.

A Camisa do Vasco

Sou vascaíno do tempo do Expresso da Vitória. Em 1948, o Vasco já era o meu time de botão. Daquele tempo, só o fardamento do Botafogo, fazia frente ao do Vascão da Gama. Mas, a faixa diagonal no peito de Barbosa, Augusto e Juvenal; Eli, Danilo e Jorge; Sabará, Maneca,  Ademir, Ipojucã e Chico, dava de goleada em qualquer outra camiseta.

Há bem pouco tempo, quase deixei de ser vascaíno quando Eurico Miranda mandava e desmandava lá dentro. Agora, depois de passar incolume pelo vexame de comemorar o título de campeão da Segundona, volto a pensar seriamente em parar de torcer pelo meu velho e bom clube de São Januário.

Nem levo mais em consideração que sou obrigado a ver um Carlos Alberto em campo, com trejeitos de dono da bola e do jogo. O pior de tudo, o que mais me azucrina é essa camiseta que eles inventaram. Nem o Bangu jamais teve uma camisa tão horrorosa. O designer e seu design estão me correndo.

É um crime tão hediondo que, como diria um presidente de sabedoria corintiana que a gente conhece, "é pior que prostituição infantil". Isso é camiseta pra jogar bingo.

Mas, ainda por um resquício de amor ao Vasco, vou encomendar uma pela internet. É para usar no campeonato de pebolim, lá no condomínio onde moro. Ninguém assiste e, os que estão por perto se concentram muito mais na loirosa aquela que desce redondo.

Santos 5 a 0 Amontoado Azul

01. O Monte Azul é tão desarranjado que já deveria ter mudado de cor: Monte Bege, Monte Ocre, Monte Marrom... Uma tonalidade assim, mais de acordo com o que faz em campo.

02. O Santos está jogando essa bola toda porque ainda não foi visitar o corintiano Lula lá em Brasília.

03. É só olhar a classificação do Monte Azul no campeonato para entender porque junta tanta mosca no seu vestiário.

04. Na volta do Monte Azul há sempre um monte de moscas.

05. Nem mesmo vendo o Santos jogar duas vezes por semana, os outros times conseguem entender o que era o futebol no tempo de Pelé.

06. O Santos não está disputando o campeonato paulista; ministra um cursinho intensivo de futebol com duas, três aulas por semana.

07. Acredite se quiser, o Monte Azul fez uma substituição no segundo tempo. Incrível, aquele time tem técnico e até um jogador reserva!

08. O Santos anda numa fase tão boa que os árbitros não tem tempo sequer de apitar as faltas mais escandalosas; a bola anda tanto de pé em pé que tudo é falta vencida.

09. Mais abusado que o futebol do Santos, só mesmo o vareio  que Lula vem dando, três, quatro vezes por semana na equipe do Tribunal Superior Eleitoral. Os juizes não enxergam nada.

10. Depois de uma temporada de quase um ano de falta em cima de falta, só agora os juizes marcaram dois pênaltis. E Lula ainda não quer que cobrem.

11. Já o Palmeiras é a versão vascaína do campeonato paulista. Mas o Vasco tem a vantagem de usar Dinamite em casos extremos.

01. O Palmeiras é um terror dentro e fora de campo. O presidente do clube, Luiz Gonzaga Belluzzo anda recebendo cartas com ameaças de morte. Só neste mês colecionou quatro. Todas pedem a sua cabeça. O fanático se assina Bill Killer The Kid. Será a vingança dos bambi, ou esse babaca está querendo apenas virar a casaca e entrar na torcida sampaulina?!?

02. O alemão Schumacher ficou em 7° lugar no grid de largada para o GP da Austrália e botou os cachorros em Alonso e Hamilton que o teriam "fechado" durante o treino classificatório. Está velho demais para essas coisas. Parece até o Ronaldo Fenômeno da Fórmula-1.

Selecionadas a esmo

01. Luiz Fabiano é melhor do que Adriano e Ronaldão. Isso não é futebol; é currículo.

02. Dunga se mete de Pato a Ganso e não convoca nem um, nem outro.

03. Em lugar de Ronaldinho Gaúcho Dunga leva Fulano, Beltrano, Sicrano, Elano...

04. Depois de meter 10 a 0 no Naviraiense foi fácil para o Santos fazer 9 a 1 no Ituano. Amanhã, se o Palmeiras não fizer mais que isso é porque é muito ruim mesmo. O São Paulo já tomou as devidas providências, a partir de agora só treina contra o Naviraiense.

Tênis

Erro de manchete: "Belucci não dá sorte e poderá encarar Djokovic na terceira rodada em Miami". É justamente o avesso: sorte dele cair contra Djokovic. Ficará mais conhecido do que, como de hábito, perder para um lhegalhé qualquer na primeira rodada. Quem nasce para Belucci, jamais será um Guga.

Brincando de jogar bola

Desde domingo que a mídia esportiva de São Paulo não se cansa de debater o jeito santista de jogar e de comemorar os gols que vem fazendo aos borbotões. A grande pauta é saber se a dança dos moleques de Vila Belmiro é uma provocação aos adversários.

Tudo porque Ronaldo, Fenômeno de gordura e Diego Souza, o destemperado, andaram reclamando que aquilo é um "exagero", um "deboche"; que dar chapéu é um abuso; que o drible da vaca e o elástico são "molecagens"; que bater de trivela e fazer gol com bola e tudo é um "desrespeito".

Só os caolhos que narram e comentam o esporte não enxergam que a grande humilhação dos que andam tomando banho de bola da meninada é o futebol que jogam. Há muito tempo que ninguém joga bola com tanta técnica, com tanta beleza, com tantos gols, com tanta alegria e objetividade, como o Santos vem jogando.

Isso é que humilha. Eles fazem o que os outros gostariam de fazer e não sabem. Pena que o futebol brasileiro tenha hoje a cara de Ronaldões, Diegos e Dungas. É uma lástima que nos outros grandes times do Brasil os moleques sejam humilhados pelos vesgos do futebol e relegados a material de segunda, rotulados de "ainda verdes" e inexperientes para o futebol - como profetizam os treinadores defunteiros que vem enterrando a arte e a beleza nos nossos estádios.

O Santos de hoje é o Santos de ontem, de Pelé, Coutinho, Pepe, Mengálvio, Zito, Gilmar. Não tem mais jogo zero a zero. Ganha de 10 a 0 e até perde de 4 a 3. Um fenômeno que ninguém mais acreditava pudesse correr pelo Morumbi e Pacaembu; pelo Maracanã, Mineirão; Beira-Rio e Olímpico, Fonte Nova...

Enquanto os torcedores cariocas, baianos, gaúchos, de todos os estádios brasileiros se mordem de raiva por ver o futebol do Santos só pela TV, os paulistas perdem tempo com a dança de Neymar, Ganso, André, Robinho e toda a molecada que sabe e gosta de jogar bola na mais perfeita coreografia que já se viu dentro de campo nos últimos tempos.

O que incomoda os emburrados do futebol não é a brincadeira depois de cada gol; o que incomoda é como os moleques santistas chegam brincando a cada gol.

Mancini fica, mas Dodô não bate mais...

Aqueles dois penaltis perdidos por Dodô contra o Flamengo não foram suficientes para derrubar Mancini do cargo de técnico vascaíno, mas foram o quanto bastou para deixar as diretorias dos dois clubes em polvorosa.

O Vasco estuda inscrever na Federação o presidente Roberto Dinamite, como batedor oficial das penalidades a favor do time cruzmaltino. Afinal, como contava João Saldanha em nome de Nenem Prancha: "Penalti é tão importante que deveria ser cobrado pelo presidente do clube".

Já os dirigentes do Flamengo, depois daquele beijo ouriçado que o zagueiro deu no atacante do Vasco, querem saber se Willians é casado, se tem filhos...

Quanto a Dodô, está emocionado até agora. Adriano, acostumado com esses rolos, nem se arrepiou: foi lá e meteu bola pra dentro. Flamengo 1x0!

É a cara do Santos de Pelé.

Palmeiras 4x3 Santos. Cada vez mais o time da Vila Belmiro se parece com o Santos de Pelé, Coutinho, Mengalvio e Pepe. Até o técnico, no banco, age como se fosse o Lula - aquele do jogo de bola, não esse aí que tem jogo de cintura para driblar o Brasil inteiro.

Serra e o Gol Mil de Pelé

Zé Serra sabe que não tem volta. Ele é o candidato das oposições, ou haverá uma eleição de chapa única no Brasil este ano. E porque é assim, vai bancar o coelhinho que perdeu a corrida para a tartaruga e só vai dar a largada de sua candidatura depois da páscoa.

É mais ou menos assim como foi o milésimo gol de Pelé: ao chegar nos 999 parecia até que o maior craque da história do futebol nem entrava em campo. 

A façanha foi sendo protelada, arrastada, prolongada até que a expectativa se transformou numa grande festa. Eis, então que chega o dia 19 de novembro do glorioso ano de 1969.

Sob as luzes dos refletores, com data, hora e lugar marcados, o gol mil foi feito de pênalti, devidamente enquadrado pelas câmeras de televisão do mundo inteiro, pelos flashes de todas as máquinas fotográficas das melhores casas do ramo e cercado de microfones de boca aberta e curiosa para narrar o grande feito e ouvir o que o seu autor tinha para dizer.

Só pra não deixar por menos, o gol foi contra o Vasco da Gama, em Andrada um goleiro argentino, no maior e mais sagrado templo do futebol daquela época, o Maracanã - lotado até os gornes. E as TVs mostraram, as máquinas flagraram, os microfones contaram o que o Rei Pelé beijando a bola pediu aos seus súditos:

- Por favor, cuidem das crianças do Brasil.

Se quisesse e a ditadura deixasse, no dia seguinte Pelé tomaria o lugar de Emílio Garrastazu Médici e assumiria a Presidência da República. Talvez as crianças do Brasil Da Silva hoje fossem craques e não dependentes do crack.

E então voltando à vaca fria, atentai redes de TV, emissoras de rádio, cadeias de jornais, monopólios da comunicação, webmedia deslumbrada! Zé Serra vai entrar em campo assim que passar pela tartaruga.

Se pedir a mesma coisa que o Pelé pediu, só não pegará na mesma hora o lugar de Lula porque o núcleo duro do poder vigente também não vai deixar. E assim, até que um dia, será mesmo democrata.

Mas, enquanto a democracia vai repetir a Redentora, Zé Serra vai repetir Pelé: o maior tento de sua carreira já tem data marcada.

ORA DIREIS, OUVIR TREINADORES...

Essa velha história de treinador em futebol, não é nem nunca foi bem contada. Eles falam, quando ganham - e não perdem nunca - como se eles tivessem jogado o jogo, marcado bem, contra-atacado melhor, feito o gol da virada...

Só não dizem, nem a mídia esportiva pergunta, qual foi a novidade tática que surgiu nesses últimos 33 anos. A contagem regressiva se justifica e já se verá logo a seguir.

Depois do overlaping de Cláudio Coutinho, em 78 na Argentina, nenhuma evolução tática surgiu pelos gramados, a não ser o genial "aproveitamento da bola parada". E os 33 anos de obscuridão começam a ser justificados aí mesmo: o overlaping aquele, Zagallo já o cometia na Copa de 58. Recuava tanto que Nilton Santos se mandou à frente e fez um gol contra a Áustria.

Pronto, taí o overlaping de Coutinho. E já nem são apenas 33, mas longos e emaranhados 53 anos. Na verdade, o capitão só teve o mérito de dar um codinome adequado para o então ousado ataque do lateral que passava por cima dos ponteiros mais cautelosos. De lá pra cá, nada de novo foi criado pelos gênios das casamatas.

Treinador só é bom quando seu time tem um goleiraço, um goleador de ofício e pelo menos três grandes craques. Dorival Júnior, o técnico do Santos é bom.

Pelo menos enquanto contar com o goleirão Felipe, com o trio Ganso, Robinho, Neymar e o matador André.

AO BOM ENTENDEDOR

Dunga, afinal, se deu conta de que Adriano impera mais na modalidade quebra de braço do que no futebol. Só não se antenou que o atacante não está fazendo nada mais, nada menos do que ouvir as instruções que o próprio Dunga dá na TV mandando todo mundo tomar cerveja. Bolas, a um bom entendendor, como Adriano meia publicidade daquelas basta.

A diferença entre o que Dunga pensa com relação a Adriano - o Imperador e Ronaldinho - o Gaúcho é que Adriano brigou com a namorada; Ronaldinho brigou nem com Dunga.

A vingança de todo torcedor da Mancha Verde é que o goleador do Flamengo é Vagner Love. Um dia desses ele ainda vai ser obrigado e enfrentar o Palmeiras.

Lula apóia Dunga por deixar Ronaldinho de fora. Grande coisa, ele apóia Fidel Castro por deixar os dissidentes dentro.
Lula, reconhecido pré-frio esportivo, diz que está tão otimista com o time de Dunga que, ao ser indagado pelo presidente do México se ele iria para a abertura da Copa na África, ele respondeu: - Não. Eu vou para a final. Pronto, Dunga vai ter que passar uma temporada por lá. No Brasil não vai ter aeroporto seguro para ele.

Recordar é viver: Lula alisou os cabelos de Diego Hipollito e ele caiu de bunda no chão; trocou cabeceios com Ronaldo Fenômeno, e olha aí no que foi que deu; ganhou uma camiseta de Kaká e ele foi investigado por santificação de dinheiro com a igreja Renascer; trocou flâmulas com Adriano e o império desandou... Agora falta apenas ele dizer que Tiger Woods só sabe jogar golfe.

Com golaços de tudo quanto foi jeito e feitio, o Santos fez 10 x 0 no - duvido você acertar de primeira o nome desse time - Naviraiense! Repita comigo: Na vi rai en se! Boa. Queria ver essa menina fazer isso com o time do Gerovital, em Brasília.

A Câmara de São Paulo não joga, mas fiscaliza. Decidiu que os jogos do campeonato paulista só podem ir, no máximo, até às 23h15. Como se andar de ônibus pelas ruas de São Paulo fosse muito seguro a essa hora.

PARADINHA... PAREM COM ISSO!

A International Board, entidade responsável pelas regras no futebol, analisa neste sábado, a validade da "paradinha" na hora de cobrar o pênalti. Se os estudiosos forem pelo que pensa o presidente da Fifa, a "paradinha" será varrida do futebol mundial.

Quando esteve no Rio, ano passado, Joseph Blatner disse que "isso não é justo. É uma infração, e o árbitro deve punir com o cartão amarelo. Se o jogador repetir, precisa ser expulso. Não é justo, é uma trapaça e precisa acabar".

Bolas, futebol é isso mesmo. Trapaça o tempo todo. Quem jogou bola sabe disso. Se, na hora da cobrança, o goleiro continuar fingindo que vai para um canto e se joga para o outro, então a paradinha vale.

Até tocar na bola, o cobrador pode fazer o que lhe der na telha. Se quiser bater de letra, bate; se quiser chutar de esquerda, chuta; se quiser cobrar de cabeça, o problema é dele. Em Portugal, batem o pênalti de costas. Na Venezuela, não batem: para Chávez, pênalti é gol e pronto!

Acabar com a paradinha é o mesmo que proibir o atacante de olhar para um lado e chutar no outro. Se paradinha é trapaça, o drible também é. Aproveitem o sábado e acabem também com o drible no futebol.

Futebol é pra quem sabe

Ontem, Robinho precisou de apenas meia hora - a mesma meia hora que foi bastante para garantir sua reconvocação por Dunga - para dar pedaladas, fazer um golaço, meter uma bola na trave e levar o Santos à vitória de 3x2 contra o Paulista de Jundiaí. Robinho é uma versão modesta de Ronaldinho Gaúcho; uma espécie de recomendação a Dunga: futebol é pra quem sabe.

Humilhação

Só o fato de depender dos humores de um treinador como Dunga já é uma humilhação insuportável pra qualquer cabeça-de-bagre... Imagine o quanto dói na alma de um Ronaldinho Gaúcho jogando a bola que joga e que ninguém consegue imitar.

A Fauna da África

A seleção de Dunga conseguiu a proeza inédita de fazer 1x0 na Irlanda com um gol contra vergonhosamente impedido. O pior de tudo veio depois: Robinho marcou um gol legítimo. Agora, com 2x0 diante do poderoso futebol irlandês, Dunga pensa que está certo. E vai para a Copa da África com essa baba toda - de Ramires a Josués...

Com Dunga e a crônica esportiva que o Brasil tem hoje, Pelé nunca seria convocado para a Seleção Brasileira de 58. Tinha dois anos menos que a idade de Neymar hoje. Eles preferem ter sicrano, beltrano e Elano do que contar com Ronaldinho Gaúcho; gostam mais de Julio Baptista cansado de guerra do que de Henri-que, o Ganso.

Se Ronal-dinho Gaúcho resolver jogar o que sabe, pode botar aquela bandana nos olhos, ao invés de usá-la nos caracóis dos seus cabelos que, ainda assim, será dez vezes melhor que esse meio campo inteiro que está de malas prontas para a África.

E o pobre do Pato não vem pela mesma razão que não chamam o Ganso. Com os burros que estão mandando por lá seria bicho demais para a fauna afro-brasileira. E a gente ainda tem que engolir esses sapos. Essa Copa vai dar zebra.